quando escrevo uma carta pra deus
quando escrevo uma carta pra deus, me refreio
sou perfeccionista com o que dizer a ele
não quero que pareça uma oração transcrita, nem uma conversa informal
acabo pedindo muito perdão, mas só porque erro proporcional
tenho rimado sem pensar
tenho pensado muito no esforço de ser mortal
quero confirmação sem rodeio:
vivemos um absurdo químico constante de receio
é insuportável essa batalha unilateral
quando escrevo uma carta pra deus, me encho
os desejos superam qualquer código
digo sempre menos que preciso
que sempre quero muito e quando quero, não digo
penso em tudo que me livra de sísifo
na mesma lua a sugar nosso zinco
tudo certo como dois e dois são cinco
e outras notícias da praça central
quero a paz dos mil anos
trabalhar pra Ele pra sempre
segurar a mão da minha vó
ouvir o som da mesa cheia de gente
o que eu quero é a lida
ter o nome no livro da vida
explodir em pedacinhos
onde os estilhaços são sempre poesia